A série de livros “Cinquenta Tons de Cinza”, de E.L. James, tem uma legião de fãs. Com os filmes, não é diferentes. Eles são fiéis às obras literárias e, por isso mesmo, acabam tendo o mesmo problema delas: a trama se arrasta, não surpreende, tem clímax fraco.
“Cinquenta Tons Mais Escuros”, que estreia nesta quinta (9), é igualmente fiel ao livro. Na trama, Anastasia Steele (Dakota Johnson) decide reatar o relacionamento com Christian Grey (Jamie Dornan), apesar do sexo masoquista e pouco convencional. Ela começa a descobrir fatos do passado que podem explicar o comportamento do namorado —o que já é uma história mais interessante do a do primeiro filme/livro, que era basicamente sobre sexo.
O roteiro de Niall Leonard e a direção de James Foley foram cuidadosos e não deixaram nenhum detalhe importante de fora. Porém o enredo, assim como no livro, continua sendo bastante primário. Ele ainda é focado no relacionamento de Anastasia e Christian e todos os conflitos (rapidamente solucionados) são sobre isso: Anastasia precisa enfrentar Elena (Kim Basinger), mulher mais velha que deu início à vida sexual de Christian, e Leila, uma ex-namorada louca. Christian, por sua vez, não gosta do chefe da namorada, o abusivo Jack Hyde (o sobrenome, para indicar um monstro, não poderia ser mais clichê).
Jamie Dornan e Dakota Johnson em cena de “Cinquenta Tons Mais Escuros” (Foto: Divulgação)
“Cinquenta Tons Mais Escuros” apresenta esses conflitos, mas mantém a temperatura morna durante todo o filme (mesmo com as cenas de sexo).
O pior defeito de “Cinquenta Tons Mais Escuros” é um que já existiu em “Cinquenta Tons de Cinza” e que continuará a existir em “Cinquenta Tons de Liberdade”, o próximo filme. É uma falha grave, que começou com a “Saga Crepúsculo”, inclusive. É uma trama obviamente escrita para mulheres e que —quem diria?— reduz o papel da mulher à submissão. Parece, de repente, termos voltado a 1920.
“Cinquenta Tons” e “Crepúsculo” fizeram adolescentes e adultas sonharem com um homem rico, forte, bem-sucedido e mandão (!) para sustentá-las e protegê-las. Esses personagens masculinos tentam mostrar poder e proteção com carros luxuosos, barcos, aviões particulares, casas de veraneio em todos os continentes. Vale destacar que as duas protagonistas femininas, Anastasia Steele e Bella Swan, se acham feias e sem graça (e têm realmente pouquíssimo carisma nos longas) e ficam se perguntando por que homens assim gostariam delas.
Esses livros e filmes mostram um modelo de relacionamento que vai contra toda a luta de igualdade entre os sexos. E tem uma legião de fãs mulheres que admiram esses personagens. O enredo fraquíssimo e a atuação mediana do elenco não parecem ser problemas para elas.
Avaliação: regular.
ASSISTA AO TRAILER DE “CINQUENTA TONS MAIS ESCUROS”