Inquieto, Vinícius Piedade estreia peças em São Paulo e viaja em turnê pelo mundo

Em cartaz com o projeto "Lasanha de Berinjela" na SP Escola de Teatro, o artista continua rodando o Brasil e o mundo com seus espetáculos - tudo sem patrocínio


Guerreiro, talentoso e que não desiste nunca. É assim que amigos e colegas se referem ao ator, diretor, escritor e dramaturgo paulistano Vinícius Piedade, que não para de produzir e já se apresentou em dez países de cinco continentes nos últimos cinco anos – isso tudo sem patrocínio algum.

China, Espanha, Portugal, Suíça, Estados Unidos e Alemanha são alguns dos lugares para onde ele levou algumas de suas montagens, como “Cárcere”, “4 Estações” e “Carta de um Pirata”. Atualmente, está em cartaz na SP Escola de Teatro (São Paulo) com duas peças do novo projeto “Lasanha de Berinjela”: “Irmãos” (aos sábados e aos domingos) e “Pais e Filhos” (às segundas).

“Eu trabalho com um repertório de espetáculos que estão sempre em circulação e nunca tive nenhum patrocínio, sempre monto na raça, e aí sim, com a obra pronta, consigo fazê-las circular e virar ganha-pão”, explica.

Vinícius Piedade em cena de “Identidade” (Ariny Bianchi/Divulgação)

PROJETO EM SÃO PAULO

Vinícius assina texto e direção das peças que fazem parte do “Lasanha de Berinjela”. Os embates familiares que o público observa nas duas histórias servem para colocar em discussão o papel do artista.

Por meio de metáforas ou de forma literal mesmo, os personagens apresentam pontos de vista diferentes sobre o fazer artístico e sobre o quanto é preciso abrir mão de certas coisas para que a mente trabalhe, a inspiração venha e as obras ganhem forma. Dedicar-se somente à arte ou buscar um trabalho que “dê dinheiro” e usar o tempo que sobra para criar?

“É uma discussão infindável que eu quis aprofundar. E aprofundar não significa encontrar respostas, pelo contrário. Acho que a vocação do artista é sempre estar nessa corda bamba, nessa instabilidade, surfando em maremoto, equilibrando-se em terremotos e penteando-se em furacões”, diz. “O artista humaniza e, sendo assim, trabalha com o impalpável e o efêmero, mesmo que as experiências teatrais e estéticas sejam de fato eternas.”

Em “Irmãos”, que tem Vinícius e Marta Caetano no elenco, um rapaz escreve um livro baseado na vida de sua irmã mais velha, uma escritora frustrada e fracassada – e que o sustenta. Já em “Pais e Filhos”, é Evas Carretero e Roberto Borenstein que entram em cena para mostrar um artista plástico que recebe a visita inesperada de seu pai em seu ateliê.

Marta Caetano e Vinícius Piedade em “Irmãos” (Tati Wexler/Divulgação)

SOBRE PATROCÍNIOS

Não me contento em apresentar apenas para a classe artística paulistana. É preciso ir além do próprio nariz (ou umbigo?). Mas são escolhas. Cada um sabe qual é ‘a parte que te cabe nesse latifúndio’. Vejo obras sendo feitas sob medida para os editais e isso não faz delas menos autênticas.

A questão não são os artistas, são os mecanismos que são poucos, e nós, os artistas, somos vistos como urubus à espera de carniça. E todos lutam pela mesma carniça, vez em quando lutando entre si. Os mesmos que criticam os editais e critérios de tais editais quando não ganham elogiam quando ganham. E assim caminhamos a passos curtos.

Se eu disser que acho os editais injustos, terei que mudar o discurso para justo quando eu ganhar? É o que vejo por aí, mas não vou entrar nessa redundância. Continuo tentando, perdendo, mas tentando. E mesmo perdendo, criando, estreando e rodando com os trabalhos dez vezes mais do que qualquer grupo ganhador de editais. Mas continuo. É minha sina. Com amor e fúria.

Evas Carretero e Roberto Borenstein em “Pais e Filhos” (Taxi Wexler/Divulgação)

NOVA TURNÊ MUNDIAL

Estou em constante turnê com os espetáculos em repertório, ou seja, nunca estou desempregado. Mantenho os trabalhos em atividade no Brasil. No momento estou em cartaz com ‘Lasanha de Berinjela’ em São Paulo, mas ‘Cárcere’ vai acontecer em setembro pelo interior de São Paulo pelo Circuito Paulista de Teatro, em Macapá, em Dourados e no Pantanal (Poconé).

Em seguida, a peça acontece na Armênia e em Cabo Verde. E, para o ano que vem, além de aportar num Festival na Rússia em junho, entre os meses de março e abril a peça vai fazer uma pequena turnê europeia passando por 12 cidades de Portugal, Itália (Roma e Florença), Espanha (Barcelona) e Estônia (Tallinn). Sinto que o público estrangeiro que tanto gosta de música brasileira tem muito interesse no teatro produzido aqui. Sigamos!

IRMÃOS
Onde: SP Escola de Teatro (Praça Roosevelt, 210, República, São Paulo, SP)
Quando: até 17/9 – sábado (21h) e domingo (20h)
Quanto: R$ 40
+ infos: 75 minutos / 14 anos

PAIS E FILHOS
Onde: SP Escola de Teatro (Praça Roosevelt, 210, República, São Paulo, SP)
Quando: até 18/9 – segunda (21h) 
Quanto: R$ 40
+ infos: 65 minutos / 14 anos