Crítica | ‘Polícia Federal’ aborda o início da Lava Jato até a investigação sobre Lula

"Polícia Federal - A Lei É Para Todos", que estreia em 7/9, retoma a Operação Lava-Jato até a polêmica divulgação do áudio do telefonema entre Lula e Dilma


Não dá para negar que “Polícia Federal – A Lei É Para Todos”, que estreia nesta quinta (7/9), é um filme corajoso. Dirigido por Marcelo Antunez, o longa retoma a investigação da Operação Lava Jato até março de 2016, quando a Polícia Federal resolveu divulgar o áudio entre Lula e a então presidente Dilma: ela dizia a ele que estava com o termo de posse, para que ele assinasse em caso de necessidade e virasse ministro – e, assim, obter o foro privilegiado.

O áudio foi captado após a ordem do juiz Sérgio Moro de suspender os grampos nos telefones, mas foi divulgado mesmo assim. Causou, claro, grande polêmica na época – ainda hoje, vivemos essa batalha enfadonha entre “coxinhas” e “petralhas” – e acabou dando força ao impeachment de Dilma Rousseff.

IQ0778_0

Image 5 of 6

Bruce Gomlevsky e Antonio Calloni em cena de "Polícia Federal" (Foto: Divulgação)

Mas, muita calma: pareceria que o filme pende para o lado da oposição ao PT, não fosse a cena pós-créditos. “Polícia Federal” terá uma sequência (convenhamos, daria para ser uma série com uns 10 filmes), e, de acordo com a tomada após os letreiros, tratará da investigação a Aécio Neves, do PSDB, e, quem sabe, ao presidente Michel Temer, do PMDB.

Esclarecida essa questão polêmica e política, vamos à trama. Tudo começa – quem se lembra? – quando a Polícia Federal intercepta um caminhão que leva potes de palmito em conserva. Dentro deles, está escondido um carregamento de cocaína.

O delegado Ivan (Antonio Calloni) comanda a equipe que começa a investigação: ele conta com a ajuda dos agentes Beatriz (Flávia Alessandra) e Julio (Bruce Gomlevsky), que ainda precisa lidar com um drama familiar. O time não sabia aonde chegaria: as drogas levam a doleiros que lavavam dinheiro em um posto de gasolina – daí o nome Lava Jato.

Mas o esquema de corrupção logo chega à direção da Petrobras, a empresas empreiteiras e, depois, aos políticos.

A equipe de policiais é apenas inspirada em pessoas reais. Mas outros personagens que aparecem na trama são bem conhecidos pelos brasileiros: o doleiro Alberto Youssef (Roberto Birindelli), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Ary Fontoura), o juiz Sérgio Moro (Marcelo Serrado), o diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa (Rooney Fachini) e o empresário Marcelo Odebrecht (Leonardo Medeiros).

A direção de Antunez acerta em não pedir para que os atores imitem as pessoas. Ary Fontoura, por exemplo, não tenta falar como Lula.

“Polícia Federal – A Lei É Para Todos” peca, contudo, no aprofundamento das personagens. É estranho que apenas o policial Julio tenha sua vida pessoal abordada no filme; conhecemos os outros agentes apenas no ambiente de trabalho, o que dá um tom quase “documental” ao longa. Ficou esquisito: ou as personagens deveriam ser construídas só dentro da Polícia Federal ou todas deveriam ter suas vidas pessoais abordadas.

Além disso, o filme termina com uma narração breguíssima. Algo como: “A Polícia Federal trabalha para buscar justiça, mas cabe ao votar com consciência e ir às ruas para protestar pelos seus direitos”. Desnecessário.

Mas, no geral, “Polícia Federal” é um bom filme. E, quando analisado como uma série de longas (Antunez afirmou que o projeto deve virar uma trilogia), parece que não vai pender para um lado político ou para outro, o que é o mais importante. Resta-nos esperar pelos próximas obras para concluir essa parte da avaliação.

Avaliação: Bom.

ASSISTA AO TRAILER DE “POLÍCIA FEDERAL – A LEI É PARA TODOS”