A esta altura do campeonato, a maioria das pessoas já terminou a segunda temporada de “Stranger Things” que estreou em 27/10 na Netflix. Mas, atenção: se esse não for o seu caso, não leia a matéria, porque ela contém spoilers. Feche o texto e volte depois, ok?
A segunda temporada da série dos irmãos Ross e Matt Duffer está sendo bem elogiada – na opinião desta repórter, é ainda melhor do que o primeiro ano do programa – mas há um episódio que é a “ovelha negra” e vem causando discussões nas redes sociais. Trata-se do sétimo capítulo, “A Irmã Perdida”, que mostra Eleven (Millie Bobby Brown) em busca do seu passado.
Muita gente tem dito por aí que o episódio é ruim. O Culturice discorda; ele não é ruim, mas certamente parece desconectado de toda a série. E os irmãos Duffer sabem disso. Por que, então, “A Irmã Perdida” existe?
O capítulo é o que chamamos de “bottle episode” (episódio engarrafado, na tradução livre): ele tem produção mais barata e usa atores que não são regulares no elenco. Para simplificar, é um episódio que economiza grana.
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Muitas séries têm esse tipo de episódio. Em “Breaking Bad”, por exemplo, o capítulo “Fly”, na terceira temporada, mostrou simplesmente Walter White (Bryan Cranston) caçando uma mosca no laboratório. “Friends” teve vários episódios inteiros compostos de “flashbacks”. Até desenhos usam a técnica, como “Uma Família da Pesada”, no episódio em que Stewie e Bryan ficam sozinhos presos dentro de um cofre de banco. Tudo para economizar dinheiro com elenco extra, dubladores, cenários ou com efeitos especiais, etc.
Muitas vezes, o “bottle episode” é criado de última hora, quando algum outro capítulo cai e há pouco tempo para fazer um novo. Mas esse não parece ser o caso de “Stranger Things”. “A Irmã Perdida” é um “bottle episode”, mas parece ter sido propositalmente criado para impulsionar a história individual de Eleven.
Em entrevista à Entertainment Weekly, os irmãos Duffer assumiram que se trata de um “bottle” e saíram em defesa do episódio. “Mesmo que o capítulo não funcione para as pessoas, ele nos permitiu experimentar um pouco”, disse Matt. “É importante testar coisas para não sentirmos que estamos sempre fazendo o mesmo. É quase como fazer outro episódio piloto no meio da temporada, que é uma coisa meio louca. Mas foi muito divertido escrevê-lo e trabalhar nele.”
Partimos, então, dessa afirmação de Matt Duffer. Poderia ser “A Irmã Perdida” um “backdoor pilot”?
“Backdoor pilot” é um tipo de episódio piloto, mas um pouco diferente. Ele pode ser feito antes de a série ser lançada, com o intuito de vender o projeto para algum canal. Nesse caso, o episódio é feito com começo, meio e fim: assim, mesmo que não seja escolhido para engatar uma série, ele pode ser exibido sozinho, como um telefilme, e o dinheiro investido nele não é completamente desperdiçado.
Ou ele pode ser feito no meio de uma série, como foi o caso de “Stranger Things”. Mas para que fazer um “backdoor pilot” se a série já está indo super bem, arrecada muita grana e tem muitos fãs? Para introduzir um possível spin-off.
Afinal, faz todo sentido: por que a Netflix não tentaria lucrar um pouco mais com a sua série mais bem sucedida?
“A Irmã Perdida” cumpre bem o papel de “backdoor pilot” para dar origem a um spin-off. Ele une duas histórias que poderiam ser desconexas: Eleven e Hawkins e a irmã dela, Kali, e sua gangue que busca vingança contra os funcionários do laboratório. Além disso, o capítulo leva a história para outro lugar, Chicago.
E, convenhamos, a Eleven não precisaria ter feito todo esse rolê para depois simplesmente voltar a Hawkins. A introdução de Kali e de seus amigos precisa ter um objetivo.
Caso a história de Kali fosse bem aceita pelo público (o que não parece ter acontecido), a Netflix já poderia dar o sinal verde para a produção de uma história derivada de “Stranger Things”. Um grupo de pessoas poderosas que buscam vingança em Chicago não é uma história ruim (embora pareça um pouco “X-Men”).
Se nada der certo para o spin-off, também está tudo bem. Kali e seus amigos podem aparecer um pouco na terceira temporada de “Stranger Things”, só para justificar sua existência. É uma tentativa válida, portanto.
Mas, claro, essa possibilidade do “backdoor pilot” não foi confirmada – e nem vai ser, caso o spin-off não seja aprovado.
E na sua opinião? Por que “A Irmã Perdida” foi criado? Conte para a gente nos comentários 😉