Crítica | ‘O Insulto’ usa um desentendimento para discutir os conflitos no Líbano

Primeiro filme libanês a ser indicado ao Oscar, "O Insulto", que estreia em 8/2, trata dos conflitos entre cristãos e palestinos no país


“O Insulto”, que estreia nesta quinta (8/2), é o primeiro longa-metragem libanês a ser indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Não é para menos: o diretor Ziad Doueiri, que também assina o roteiro, foi inteligente ao criar uma trama na qual um pequeno desentendimento entre dois homens intensifica conflitos entre cristãos e palestinos, israelenses e libaneses, libaneses e refugiados.

Tudo começa por uma besteira. O libanês e cristão Tony Hanna (Adel Karam) mora no segundo andar de um prédio, e seu encanamento está irregular, pois há água vazando na rua. É tarefa do palestino refugiado Yasser Salameh (Kamel El Basha) consertá-lo. Mas Hanna não o deixa entrar na sua casa para fazer o reparo. Determinado em cumprir sua função, Salameh usa uma escada para emendar o cano – e, furioso, Hanna o destrói com um machado. O libanês fica mais irado quando Salameh o xinga de “babaca”.

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Cena do libanês "O Insulto", indicado ao Oscar (Foto: Divulgação)

Nada parece apaziguar a fúria do libanês – nem ao menos os chocolates e o pedido de desculpas que o chefe da obra lhe deu. Hanna exige que o próprio Salameh peça perdão. Ao tentarem resolver a situação, ela piora mais ainda: Salameh dá um soco em Hanna, que o processa.

Hanna contrata um conceituado advogado, Wajdi, enquanto Salameh, sem dinheiro, contenta-se com uma advogada em início de carreira, Nadine.

Mas o que deveria ser um julgamento de pequenas causas toma proporções gigantescas. O caso acaba virando a alegoria perfeita para o conflito religioso no Líbano. A cobertura da imprensa faz com que a população tome lados e entre em conflito nas ruas.

Usar um tribunal para discutir problemas sociais não é exatamente novidade no cinema (o israelense “O Julgamento de Viviane Amsalem” (2014), indicado ao Globo de Ouro, também cumpriu bem essa tarefa). Mas “O Insulto” é sensível em opor dois personagens tão diferentes, o tempestuoso Hanna e o aparentemente pacato Salameh. Aos poucos, o filme vai mostrando que eles têm outros lados e que têm razões para serem do jeito que são – traumas do passado os influenciam, como acontece com tantas pessoas que vivem em áreas de conflito no Oriente Médio. 

ASSISTA AO TRAILER DE “O INSULTO”