Denise Stoklos tem muita história para contar. Com meio século de carreira no teatro, a atriz, diretora e dramaturga já esteve em 27 espetáculos – e se apresentou em 33 países -, escreveu sete livros e venceu 22 prêmios, entre outros marcos. Tudo isso é motivo para comemoração? Mais ou menos.
No solo “Denise Stoklos em Extinção”, que inicia temporada no Sesc Consolação (centro de São Paulo) nesta sexta (13/4), depois de ter estreado no Festival de Teatro de Curitiba (onde o Culturice o assistiu), Denise não comemora. Em vez disso, propõe uma autodestruição, partindo do livro “Extinção”, do austríaco Thomas Bernhard.
No livro, o autor desconstrói valores conservadores da sociedade a partir da história de um homem que não se encaixa bem na sua família, formada por latifundiários. Pois bem: Denise constrói seu texto colocando-se no centro, com a colaboração dos psicanalistas Ricardo Goldenberg e Lua Santosouza. A atriz fala sobre sua família, a boa relação com o pai, a má relação com a mãe, as alegrias de ser avó, os amores, a carreira no teatro, a vasta experiência na arte. Mas não deixa de destacar as muitas vezes que “pisou” fora do padrão: os muitos casos amorosos, com homens e mulheres (segundo a própria Denise, foram 75 pessoas), a beleza que não era convencional na juventude, as muitas internações por overdose.
Denise permanece sozinha no palco por 75 minutos – e prende a atenção do espectador durante cada segundo. O texto é profundo e, ao mesmo tempo, arranca muitas risadas da plateia. Nada menos se espera de Denise Stoklos, fundadora do chamado “teatro essencial”, que incentiva atores a se expressarem que lhes emociona e que os move pessoal e coletivamente.
Os trabalhos de cenografia, de J.C. Serroni, e de iluminação, de Aline Santini, são fundamentais e dialogam com o espetáculo.
O cenário tem destroços de construções e, ao fundo, imagens são projetadas à medida que Denise fala: são fotos de sua infância, de sua carreira e trechos de vídeos. A luz de Santini é individual e certeira – deixa o palco, que aparenta estar vazio, menos vazio.
A parceria na direção entre Denise Stoklos, Francisco Medeiros e Marcio Aurelio também funciona muito bem. A direção de produção é de Luís Henrique Daltrozo.
Denise se desconstrói em “Denise Stoklos em Extinção”. Mas a ideia – ainda bem – não é deixar de existir completamente: é reconhecer e aceitar o passado para dar as boas-vindas ao novo. Vamos esperar ansiosamente.
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Denise Stoklos em Extinção
Onde: Sesc Consolação – Teatro Anchieta – Rua Doutor Vila Nova, 245, Consolação, São Paulo, SP.
Quando: Sexta e sábado, 21h. Domingos, 18h. De 13/4 a 20/5.
Quanto: R$ 40.
+ infos: 75 minutos. Recomendado para maiores de 16 anos.