A cineasta brasiliense Maria Augusta Ramos gravou cerca de 450 horas de material sobre o processo que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O resultado foram as 2h17 do documentário “O Processo”, que chega aos cinemas nesta quinta (17/5), depois de estrear no Festival de Berlim (onde foi aplaudido de pé) e arrebatar prêmios nos festivais Indie Lisboa e Visions du Reel, em Nyon, na Suíça.
A temporada no Congresso Nacional foi longa. “Comecei a filmar uma semana antes da votação na Câmara dos Deputados e fiquei até o dia da votação no Senado”, conta Maria Augusta ao Culturice. “A rotina da nossa equipe dependia muito do que estava acontecendo, dentro e fora do Congresso. Foi muito difícil filmar porque não sabíamos o que ia acontecer.”
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Como o título sugere, “O Processo” retrata as etapas do processo jurídico instaurado contra Dilma ao retratar sessões de plenário (algumas, segundo Maria Augusta, chegaram a durar 14 horas) e reuniões da cúpula do PT – a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do partido, e José Eduardo Cardozo, advogado e ex-Ministro da Justiça, são figuras centrais. Do outro lado, há Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, e a advogada de acusação Janaína Paschoal.
O documentário pende para o lado esquerdo, mas não deixa de mostrar as manobras da acusação da direita – mesmo que sejam elas vindas de Janaína Paschoal em alguns momentos de descontrole emocional. “Em momento algum, tive a intenção de ridicularizar alguém”, afirma a diretora Maria Augusta. “Eu jamais faria algo panfletário, meu cinema não é assim. Procurei mostrar todos os lados. É fato que tivemos mais acesso à comissão que era contra o impeachment, porque as reuniões da comissão à favor ocorriam de portas fechadas.”
A cineasta ressalta que todos os envolvidos no documentário foram muito receptivos. “Sou muito grata à Janaína Paschoal e ao deputado Pedro Cunha Lima (PSDB), que nos receberam muito bem”.
O longa apenas acompanha as reuniões e sessões do plenário, sem utilizar depoimentos dados direto à câmera – característica que Maria Augusta Ramos já havia mostrado, por exemplo, em “Futuro Junho” (2015). Para a diretora, lançar “O Processo” dois anos após o impeachment é fundamental. “Acho o distanciamento muito importante, porque ele ajuda o cinema a cumprir um de seus principais objetivos, que é nos fazer refletir e repensar tudo o que aconteceu.”