O massacre aconteceu entre as décadas de 1930 e 1980, há muito tempo, e mesmo assim (e também por isso!) serviu como ponto de partida do espetáculo “Colônia”, uma peça-conferência que aborda desde a colonização brasileira até este período de genocídio brasileiro, em que cerca de 60 mil pessoas morreram no extinto manicômio Colônia, em Barbacena (MG).
“Sempre vi a profissão do artista como uma ferramenta atemporal que tenta dar conta dos fenômenos sociais”, diz o ator Renato Livera. “É fundamental que episódios como o de Barbacena sejam lembrados e refletidos, pois poucas pessoas conhecem, e ainda hoje o descaso com pessoas consideradas fora dos padrões estabelecidos é enorme. Neste momento delicado que vivemos no país, de intolerância e proliferação de discursos de ódio, precisamos ficar atentos pra que isso não se repita.”
Na ocasião, as pacientes eram deixados lá mesmo sem problemas mentais. Eram simplesmente abandonados pelos parentes e pela sociedade, por qualquer motivo que fosse. A fonte de pesquisa inicial para a montagem, com dramaturgia de Gustavo Colombini e direção de Vinícius Arneiro, foi o livro “Holocausto Brasileiro” (2013), de Daniela Arbex.
Condição colonial
Renato diz que a peça é uma explosão de pensamentos que atravessam conceitos, poesia e teatralidade – e que ela fala dos problemas atuais e do rastro histórico da nossa condição colonial. “Aprendi e aprendo que ainda temos um longo caminho, pois somos um país novo, em constante desenvolvimento. É necessário promovermos esse tipo de debate para gerar cada vez mais reflexão.”
Em cena, ele brinca com as palavras para associar significados ao termo colônia e a outros mais. A ideia é instigar a reflexão sobre o mundo à sua volta, deixando que o pensamento vagueie por lugares ainda não explorados. “Sou uma espécie de canal pra esse fluxo e me sinto privilegiado por poder experimentar e provocar essa experiência no espectador. Aprendi a olhar o público mais profundamente, é dele que tiro forças pra continuar falando.”
E ele cita um trecho da peça: “Falar é existir. Isso aqui é uma maneira de existir. Se não me deixam falar eu deixo de existir”. Para completar dizendo que com isso aprendeu que precisamos ouvir mais e talvez falar menos. “Para que estejamos sensibilizados com as mensagens do mundo.”
Sobre o tom pessimista ou otimista da obra, Renato, que completa 20 anos de carreira, afirma que prefere deixar essa conclusão com o público. “Mas é claro que ao falarmos do Brasil e do mundo tocamos em feridas e medidas assépticas para que a sociedade caminhe rumo ao equilíbrio. Hoje, confesso que o quadro social mundial está em profunda transformação, e acredito que isso também é de responsabilidade individual. Então acho que precisamos ter esperança, coragem e obstinação para evoluir nessas questões.”
Colônia
Onde: Sesc Consolação – Espaço Beta (3º andar) – R. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque
Quando: até 12/6 – seg. e ter.: 20h
Quanto: R$ 6 a R$ 20; à venda pelo site do Sesc
+ infos: 60 min., 14 anos