Crítica | ‘Ilha dos Cachorros’ tem bela estética para falar do amor de humanos e cães

Dirigido e roteirizado por Wes Anderson, o filme estreia nesta quinta (19/7) e é boa opção para adultos que gostam de animação


Foi preciso esperar nove anos por uma nova animação do diretor e roteirista Wes Anderson. Mas, se a pressa é inimiga da perfeição, ele não tem pressa – assim como o ritmo de seus filmes. E funciona. Depois do ótimo “O Fantástico Sr. Raposo” (2019), chega aos cinemas “Ilha dos Cachorros”, que estreia nesta quinta (19/7).

Filmado em stop-motion, a mesma técnica de “Sr. Raposo”, o longa se passa no Japão, na cidade de Megasaki. Devido a doenças contraídas e disseminadas por cães, o prefeito Kobayashi decide que todos os cachorros serão levados para uma ilha cheia de lixo.

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Cena de "Ilha dos Cachorros", de Wes Anderson (Foto: Divulgação)

Lá, os animais brigam por qualquer resto de comida. A animação companha um grupo: Chief (dublado por Bryan Cranston), Rex (Edward Norton), Duke (Jeff Goldblum), Boss (Bill Murray) e King (Bob Balaban). A vida dos bichos muda quando o garotinho Atari (Koyu Rankin) vai até a ilha de avião. Sobrinho do prefeito, ele procura por seu cão, Spots (Liev Schreiber), o primeiro a ser exilado ali.

Enquanto isso, em Megasaki, a estudante intercambista Tracy (Greta Gerwig) encabeça um movimento a favor dos cachorros e contra o prefeito Kobayashi.

Wes Anderson não erra (ou, se erra, é pouquíssimo) nos seus filmes. Vêm dele os ótimos “Viagem a Darjeeling” (2007), “O Grande Hotel Budapeste” (2014) e “Os Excêntricos Tenembaums” (2001), só para citar alguns. “Ilha dos Cachorros” também mostra acertos: tem a estética de Anderson (com tons mais pastéis), ritmo desacelerado, bom roteiro, bons personagens. 

A animação tem outros toques especiais. Os cachorros falam inglês (“Os latidos foram traduzidos”, avisa um letreiro no começo do filme), mas os humanos falam japonês – a nossa compreensão depende de uma tradução simultânea, com a voz de Frances McDormand (“Três Anúncios para um Crime”), às vezes presente, às vezes não. Vale dizer que Wes Anderson foi acusado de apropriação cultural – na opinião do Culturice, injustamente. É raro ver uma preocupação tão grande em retratar outra cultura (manter o idioma original, então, é raríssimo).

É bonita a relação entre Atari e os cães. Mostra bem aquele laço que só pode existir entre uma criança e um cachorro – e que, afinal, quebra qualquer barreira de linguagem. Mais bonito ainda é o relacionamento com Chief. O cão, que sempre foi vira-lata e nunca teve dono, rejeita o garotinho, mas concorda em ajudá-lo.

Como em “O Fantástico Sr. Raposo”, Anderson reuniu um grande elenco para dublar seus personagens. “Ilha dos Cachorros” ainda tem as vozes de Tilda Swinton, Scarlett Johansson, Yoko Ono e, de certa forma, Anjelica Huston (creditada como o “poodle mudo”).

“Ilha dos Cachorros” chega aos cinema como boa opção de filme leve (mas nem por isso bobo) e visualmente bonito – e ótima escolha para adultos que gostam de animação.

Assista ao trailer de “Ilha dos Cachorros”