Coloque quatro ótimos atores em cena para interpretar fragmentos das tragédias cotidianas, adicione um texto incisivo repleto de significados e complete com uma direção sutil e criativa. Essa é a fórmula de “Pi – Panorâmica insana”, em cartaz até domingo (29) no Teatro Novo, em SP.
Claudia Abreu, Leandra Leal, Luiz Henrique Nogueira e Rodrigo Pandolfo se apropriam de parte das 11.000 peças de roupa espalhadas pelo palco para relembrar pessoas que sobreviveram ou morreram, no Brasil ou em outras partes do mundo. Cada vestimenta representa alguém – alguém que não suportou ou que não teve escolha ou que apenas tenta continuar.

Cena de “Pi – Panorâmica insana” (João Caldas/Divulgação)
A direção de Bia Lessa faz o conjunto de cenas parecer, de certa forma, simples, mas a naturalidade na transição de assuntos é algo notável, assim como a entrega dos atores. Assinado por Júlia Spadaccini, Jô Bilac e André Sant’anna, o texto abrange uma quantidade bem grande de temas. Fala de dinheiro, doença, sexo, sucesso, religião, fuga, dor, apatia, futilidade, amor, assassinato, desesperança, acidente, loucura, medo. Tudo o que nos rodeia.
O elenco compartilha dados, nomes, causas e motivos de forma avassaladora, simbolizando o ataque frenético de informações ao qual estamos sujeitos todos os dias. E a robotização da nossa vida também aparece por lá, expondo a busca constante por parecer sempre feliz e sorridente.

Cena de “Pi – Panorâmica insana” (João Caldas/Divulgação)
Um dos pontos altos do espetáculo é quando a atriz Claudia Abreu, logo depois de interpretar uma médica, se transforma em uma refugiada que se desespera ao ver seu filho morrer durante uma travessia de barco em busca de paz. À morte dele, juntam-se incontáveis outras tragédias e atrocidades, formando uma montanha de dor sem fim.
Já na cena seguinte, quando Rodrigo Pandolfo faz um engraçado rapaz que divaga sobre os gostos de Deus, o público, que de forma geral ainda permanece em choque pelo que viu instantes antes, é levado a rir. Um riso que surge em meio a lágrimas ou quase-lágrimas. A gente se esquece rápido.
A produção é de Célia Forte e Selma Morente, da Morente Forte.
Importante: embora os ingressos já estejam esgotados até o final da temporada, vale a pena ir até o teatro e tentar a sorte na lista de espera. A cada dia, cerca de 20 pessoas conseguem entradas extras.
“Pi – Panorâmica insana”
Onde: Teatro Novo – Rua Domingos de Moraes, 348, Vila Mariana, São Paulo, SP
Quando: até 29/7 – sexta (21h), sábado (21h) e domingo (18h)
Quanto: R$ 50 (sexta) e R$ 70 (sábado e domingo)
+ infos: 16 anos / 90 minutos