Nesta semana, “Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível” estreou nos cinemas. Quem viu o desenho do Ursinho Pooh talvez não saiba que existiu um verdadeiro Christopher Robin (no desenho em português, chamava-se Cristóvão). E tem mais: sua filha, Clare (que, no filme, se chama Madeline), nasceu com paralisia cerebral e foi uma grande ativista em Londres, na Inglaterra.
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Christopher Robin e seu Ursinho Pooh
O escritor inglês Alan Alexander Milne se inspirou na sua própria rotina para criar a história que encanta gerações. ele baseou o garotinho em seu filho, Christopher Robin (1920-1996), que costumava brincar com seus bichos de pelúcia: um tigre, um urso, um canguru, um porquinho e um burro.
Christopher batizou seu ursinho de Winnie-the-Pooh: Winnie em homenagem a um urso que sempre via no zoológico e Pooh, por causa de um cisne que haviam conhecido em um feriado.
Ursinho Pooh e Christopher Robin, os fictícios, apareceram pela primeira em um poema ilustrado, em 1924. Seis anos depois, Stephen Slesinger comprou os diretos dos personagens e os levou aos Estados Unidos e ao Canadá: o Ursinho Pooh e seus amigos viraram brinquedos, jogos de tabuleiro e quebra-cabeças.
Em 1961, a Disney comprou os direitos e lançou os desenhos animados, aumentando ainda mais a fama dos personagens de Milne.
Clare e a paralisia cerebral
Como no filme “Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível”, Christopher cresceu. Como no filme, ele foi a um colégio interno e se alistou no Exército. E, como no filme, ele teve uma filha. Enquanto na ficção ela se chama Madeline, na vida real ela se chamava Clare.
A Disney perdeu a oportunidade – com medo de reduzir a bilheteria, talvez – de contar uma história poderosa. Clare Milne nasceu com paralisia cerebral. Ela usou o dinheiro que ganhava da Disney, pelos direitos de “Ursinho Pooh”, para fundar e manter a Clare Milne Trust, uma organização filantrópica que ajudava pessoas com deficiência na Inglaterra.
Clare viveu bem com a paralisia cerebral e, de quebra, ajudou muita gente. Ela morreu em 2012, aos 56 anos, por problemas cardíacos.
A deficiência física no cinema
Clare Milne, até onde se sabe, tinha uma boa relação com a Disney e gostava do trabalho que o estúdio fazia com o “Ursinho Pooh” de seu avô.
Está certo que “Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível” é um filme levemente baseado em fatos reais, assim como toda a série “Ursinho Pooh”. Mas, se a Disney incluiu no filme fatos verdadeiros da vida de Robin, por que perdeu a oportunidade de retratar uma criança com deficiência?
Vale lembrar que, nos filmes de 2017, apenas 2,5% dos personagens com diálogos, segundo pesquisa divulgada pelo The Hollywood Reporter, tinham algum tipo de deficiência física. Assusta mais ainda ao pensar que, desses 2,5% de personagens, 69,6% eram homens.
Em “O Corcunda de Notre Dame” (1996), a Disney ousou ao tratar de temas considerados “tabu” para as crianças e famílias: justamente a deficiência física e outros assuntos como intolerância religiosa e inclusão social.
Em “Walt Disney nos Bastidores de Mary Poppins” (2013), a personagem P.L. Travers (Emma Thompson) se sensibiliza com a história de seu motorista, que lhe conta que a filha é deficiente e vive em uma cadeira de rodas. Travers, autora de Mary Poppins, lhe diz que a menina pode fazer tudo que quiser e que deveria se inspirar em Walt Disney (interpretado por Tom Hanks no filme), que superou seus próprios problemas para levar felicidade aos outros.
É uma pena que em “Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível” a Disney não tenha seguido o conselho de sua própria personagem, P.L. Travers. O terceiro ato do longa, quando Madeline sai por Londres com Ursinho Pooh e companhia, teria ficado interessante se mostrasse uma menina se aventurando em uma cadeira de rodas – e por que não?
“Christopher Robin” é um filme bonitinho, com tons melancólicos, que trata de amadurecimento. Mas, como dissemos na nossa crítica, a passagem da infância para a vida adulta já foi abordada em diversos longas (da própria Disney, inclusive). Mas seria ótimo e inspirador ter visto um filme sobre amadurecimento e também sobre deficiência física e superação.