A maioria dos filmes é feita com o objetivo de entreter o público. Mas há longas que vão além disso – é o caso de “As Viúvas”; leia mais aqui. “Robin Hood – A Origem”, que também estreia nesta quinta (29/11), porém, cumpre apenas esse requisito. O que, em parte, não acarreta problemas. Mas o longa, dirigido por Otto Bathurst, está cheio de furos no roteiro – e isso, sim, é uma grande falha.
A direção de Bathurst, que assina seu primeiro longa-metragem, é boa. “Robin Hood – A Origem” tem estética moderna para contar uma história que o público já memorizou. O visual do filme é interessante e lembra um pouco o da série “Peaky Blinders”, que tem três episódios dirigidos por Bathurst.
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O problema é mesmo o roteiro de Ben Chandler e David James Kelly. Na trama, Robin de Loxley (Taron Egerton, da franquia “Kingsman”) é um jovem lorde rico que engata um romance com Marian (Eve Hewson). Sua vida muda quando ele é convocado para defender a Inglaterra nas Cruzadas, em batalhas no Oriente Médio.
Após quatro anos na guerra, Robin retorna à cidade de Nottingham e descobre que nada é como antes: sua fortuna e sua casa foram confiscadas e ele foi declarado morto – tudo obra do implacável Xerife (Ben Mendelsohn). Além disso, Marian está namorando Will (Jamie Dornan, de “50 Tons de Cinza”), líder de movimentos populares.
A cidade de Nottigham sofre nas mãos do Xerife, que cobra altos impostos do povo, alegando que o dinheiro é usado para manter o Exército inglês nas Cruzadas.
Robin, então, decide se articular para derrubar o tirano. Para isso, conta com a ajuda de John (Jamie Foxx), um mouro contra quem lutou na guerra.
Armado de arco e flecha, Robin usa um capuz (daí o apelido Robin Hood, pois “hood” significa “capuz” em inglês) e começa a roubar o dinheiro dos impostos e devolvê-lo ao povo. Ao mesmo tempo, ele reassume a identidade de lorde para se infiltrar na alta cúpula de poder, comandada pela Igreja.
Apesar de entreter por quase duas horas, “Robin Hood – A Origem” tem falhas que não podem ser desconsideradas. Uma delas – talvez a mais óbvia – vem logo no início do filme: Robin se reapresenta como Loxley ao Xerife e, para cair nas suas graças, oferece uma gorda doação (vinda do dinheiro que ele já havia roubado). O Xerife fica feliz e aceita. Mas não foi o próprio Xerife que confiscou todo o dinheiro e a casa de Robin? De onde, então, veio toda essa grana? O antagonista parece não se importar com esse detalhe.
Robin Hood também mantém sua identidade por tempo demais – mesmo que várias pessoas já saibam quem ele realmente é. Tudo parece se resolver facilmente.
A proposta de “Robin Hood – A Origem” é mostrar uma nova versão do conto. O objetivo é atingido algumas vezes, outras não. É interessante a Igreja ser colocada como o poder supremo de Nottingham (na maioria das versões, é um impiedoso rei que comanda o Xerife). John, o João Pequeno, é apresentado como um mouro vindo de um país árabe – mas Jamie Foxx, apesar de ser ótimo ator, não convence no papel.
Se o seu plano é ir ao cinema para assistir a “Robin Hood”, acomode-se despretensiosamente na poltrona, saboreie uma pipoca e não exija um grande filme. É mesmo uma sessão da tarde, com visual legal e algumas boas cenas de ação.