Crítica | ‘A Esposa’ fala sobre machismo com ótima atuação de Glenn Close

Filme discute o machismo e a luta feminista por meio da história de Joan (Close), esposa exemplar de um escritor vencedor do Nobel


“A Esposa” estreia nos cinemas nesta quinta (10/1) com uma trama que se passa em 1992 e que tem momentos em que seus personagens se lembram da vida em 1958. Ainda assim, o tema é muito atual. Baseado no livro homônimo de Meg Wolitzer, o diretor sueco Björn Runge fala sobre machismo e feminismo.

No filme, Joan (interpretada maravilhosamente por Glenn Close, vencedora do Globo de Ouro pelo papel) é a esposa exemplar de Joe Castleman (Jonathan Pryce, também com atuação marcante), um escritor veterano que acaba de vencer o Prêmio Nobel de Literatura pelo conjunto de sua obra.

Joan faz de tudo: vibra com Joe, cuida para que ele tome seus remédios e ainda media a relação com os filhos, Susannah, que está grávida do primeiro neto dos Castleman, e o jovem David (Max Irons), que tenta seguir os passos do pai e se tornar um escritor.

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Cena de "A Esposa", de Björn Runge (Foto: Divulgação)

Tudo na relação entre o casal de idosos, contudo, aponta ao machismo. Joan cumpre o papel daquela mulher “por trás de um grande homem”. Joe não cansa de reafirmar aos amigos e aos jornalistas o quanto ele a ama e o quanto ela foi importante para sua carreira.

Tudo piora quando somos levados aos anos 1950, quando Joan e Joe se conheceram. Ele, professor da universidade, casado e pai. Ela, aluna dele e escritora com enorme potencial. Os dois se envolvem romanticamente, e Joe deixa a mulher e a filha para sempre.

Do mesmo jeito que ele iniciou a sua relação com Joan extraconjugalmente, o escritor nunca parou de ter casos amorosos fora do casamento. Por amor a ele, a protagonista, mulher exemplar aos olhos da sociedade, segura a barra e segue com o casamento.

Quando vão a Estocolmo, na Suécia, para receber o Nobel, Joan, Joe e David são abordados por Nathaniel (Christian Slater), um escritor que insiste em escrever a biografia de Joe, mesmo sem sua permissão.

É ele quem levanta a principal questão de “A Esposa”. Ao investigar o passado, Nathaniel descobre que Joe não escrevia tão bem assim antes de conhecer Joan. Seria possível que Joan fizesse mais pela carreira do marido do que simplesmente dar apoio moral?

Por meio de uma relação amorosa muito complexa, Runge consegue cutucar o machismo. Além disso, mostra a evolução da força feminista, desde 1950 até os anos 1990. Dependendo da época, teriam seus personagens tomado decisões diferentes, no casamento e nas carreiras? Como se luta contra o machismo e se abraça o feminismo, quando se vem de uma geração altamente favorável aos homens?

“A Esposa” acerta em trazer como protagonistas um casal de idosos – coisa rara no cinema – para mostrar a diferença de poder e de privilégios entre os sexos, que vem enraizada há anos na sociedade. E nos faz pensar, afinal, se estamos lutando o suficiente em 2019.

Assista ao trailer de “A Esposa”