Peça de Kiko Mascarenhas transborda amor e delicadeza ao falar de depressão e suicídio

"Todas as Coisas Maravilhosas" fica em cartaz até o final de julho no Teatro Poeirinha, no Rio


A peça começa antes mesmo do chamado terceiro sinal, quando Kiko Mascarenhas vai até o hall do teatro para cumprimentar os espectadores, um por um, e explicar que a ideia é que o público também participe do espetáculo lendo algumas frases e palavras escritas em cartões amarelados.

Kiko Mascarenhas está em “Todas as Coisas Maravilhosas” (Divulgação)

Em cartaz no Teatro Poeirinha até 28/7, “Todas as Coisas Maravilhosas” fala sobre um menino de 6 anos de idade que precisa lidar com a depressão de sua mãe. Para tentar animá-la e fazer com que ela volte a ter vontade de viver, o garoto passa a fazer uma lista interminável de coisas maravilhosas existentes no mundo, tais como sorvete, cheiro de livro antigo, sonhar que está voando, caminhar na chuva… e espalha os bilhetinhos pela casa toda.

“A afetividade é a matéria que move essa peça”, conta Kiko ao Culturice. “Fala sobre depressão e suicídio, mas fala de memória, de afeto, do amor de um filho por sua mãe que não consegue enxergar razões para continuar vivendo. Fala sobre aprender a reconhecer as belezas e delicadezas do dia a dia, que, na maioria das vezes, passam desapercebidas pela maioria de nós.”

A peça está em cartaz no Teatro Poeirinha, no Rio (Fabiana Seragusa/Culturice)

Interação com o público

O texto dos ingleses Duncan Macmillan e Jonny Donahoe por si só já é cheio de emoção, mas o talento e a entrega de Kiko em cena tornam a história ainda mais envolvente e comovente. Ele tem brilho no olhar. Nos momentos divertidos, a doçura do personagem encanta o público, enquanto, nos trechos com narrativas mais tensas e dolorosas, a empatia abarca a todos.

“E a peça tem um outro atrativo: o desafio de envolver a plateia no jogo teatral de maneira respeitosa, divertida, leve, espontânea”, diz o artista, em cena sob a direção de Fernando Philbert. “A ideia de que toda noite aquela história será contada, mas também será transformada pela interação entre ator e público. Uma peça onde palco e plateia se unem num espaço único e que, juntos, podemos construir uma narrativa divertida e também muito emocionante.”

Cartões com frases que o público lê durante o espetáculo (Fabiana Seragusa/Culturice)

Além de ler as palavras e frases de “coisas maravilhosas” durante o espetáculo, os espectadores também podem participar de outras cenas, como interpretar o pai do garotinho ou então seu grande amor. Tudo é feito de forma super natural e nada invasiva, mas se por acaso você tiver pavor de participar de algo assim em público fale com o ator nesse bate-papo informal que acontece antes do início da peça. Ele certamente vai levar em conta. 

Ocupação no Poeirinha

Kiko, que participou de produções como a novela “O Tempo Não Para” e o seriado “Mister Brau”, ambos da Globo, celebra 35 anos de carreira com esta montagem, que é seu primeiro monólogo. Ele conta que conheceu o texto por meio de Diego Teza, pesquisador de dramaturgia britânica contemporânea e que aqui assina a tradução e a versão da obra. Teza também sugeriu outro solo, “Meninas e Meninos”, com texto de Dennis Kelly, que ganhou direção de Kiko e Daniel Chagas e atuação de Maria Eduarda de Carvalho. 

“Ele me apresentou esses dois solos, e eu imediatamente percebi a importância de encenar as duas montagens o quanto antes, por tratarem de temas atuais e de assuntos que precisam ser discutidos no momento presente”, conta o ator. “Meninas e Meninos” mostra uma mulher que aborda questões delicadas relacionadas a sexo, maternidade e machismo, em uma conversa cheia de humor e sem censura.

“É muito lindo e poderoso quando o teatro espelha o momento presente. Então não tive dúvidas sobre a importância e a urgência de encenar esses dois solos. Propusemos uma ocupação de 2 meses no Teatro Poeirinha e assim seguimos com os projetos sendo construídos paralelamente.”

As duas peças ficam em cartaz até o fim de julho, porque depois eles começam as gravações da novela “Éramos Seis” (Globo). A intenção é retomar as temporadas em São Paulo a partir de abril de 2020. 

“Todas as Coisas Maravilhosas”

Onde: Teatro Poeirinha – Rua São João Batista, 104, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ
Quando: até 28/7 – sextas (21h), sábados (21h) e domingos (19h)
Quanto: R$ 60; à venda pelo site do teatro