“A classe artística é a primeira a sofrer as consequências de um autoritarismo e de uma crise econômica e é a última a conseguir se reerguer”, salientou o escritor Marcelo Rubens Paiva no início de sua fala durante o debate “Os Desafios da Cultura em Tempos de Pandemia”, realizado nesta quarta-feira (3) pelo projeto Observatório da Democracia.
Mediado pela deputada federal Jandira Feghali (PCdoB/RJ), o bate-papo também contou com a participação do ator Stepan Nercessian, do músico Chico César e de Juca Ferreira, ex-ministro da Cultura.
Marcelo aproveitou para dizer que o setor literário vem passando por dificuldades. “Nós da literatura, por exemplo, já estamos desde o governo Temer sofrendo com o fato de o governo não comprar mais livros para serem distribuídos para bibliotecas e escolas, o que representava perto de 30% a 40% do faturamento do mercado editorial. Era um parceiro muito importante a Fundação Nacional do Livro, que conseguia fazer com que esse mercado fosse vibrante, com mais de 200, 300 edições por mês sendo publicadas.”
O escritor, dramaturgo, roteirista e cronista, autor de livros como “Blecaute”, “Malu de Bicicleta”, “Feliz Ano Velho” e “O Homem Ridículo” , também falou dos problemas observados no teatro e no cinema e fez uma reflexão sobre o cenário atual e geral da cultura no Brasil.
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“O nosso país tem um projeto muito claro, hoje, de eliminação total da cultura, eliminação total dos valores de altruísmo e de empatia ao outro, eliminação total de respeito ao meio ambiente, eliminação da raça negra, com assassinatos constantes, preconceito e racismo. E da educação.”
“O Brasil sempre teve uma relação Estado-cultura complicada. Para nós, cultura é fundamental para a criação da nossa cidadania, do valor do brasileiro.”
“Quando há um regime democrático, justo, que pensa em um projeto de nação, a cultura é valorizada. Quando há um período autoritário, a primeira coisa que eles focam é a eliminação da educação e eliminação da cultura. Foi o projeto que começou com o governo Temer e, hoje, é a porta-estandarte do fascismo brasileiro, através de Jair Bolsonaro e de seus seguidores da extrema-direita, a eliminação total e absoluta da cultura brasileira. Para eles, nós representamos o inimigo numero 1. Nós, os índios, os negros e a Floresta Amazônia.”
“A gente não pode achar que o que está acontecendo é apenas um fator da crise econômica, da pandemia. É, sim, um projeto de Estado de eliminação da cultura brasileira. Ou nós reagimos a isso já ou nós teremos trevas por muitas e muitas décadas.”
O debate será disponibilizado na íntegra nesta sexta (5), no YouTube do Observatório da Democracia.