O garoto Deivinho vive treinando futebol para se tornar jogador profissional e realizar o sonho do pai, mas a cabeça dele está a 60 milhões de km da Terra, em Marte, para onde sonha ir. Essa é a premissa de “Marte Um”, que leva o nome de uma missão que pretende colonizar o planeta vermelho em 2030.
O segundo longa assinado por Gabriel Martins estreia hoje nos cinemas brasileiros após receber quatro prêmios no Festival de Gramado (Melhor Filme pelo Júri Popular, Melhor Roteiro, Melhor Trilha Musical e Prêmio Especial do Júri). A produção teve sua estreia mundial no Festival de Sundance em janeiro deste ano e já foi exibido em 35 eventos internacionais.
A produção é da Filmes de Plástico, com distribuição da Embaúba Filmes.
O início de “Marte Um” coincide com a eleição de Bolsonaro para a Presidência, em 2018. Aos poucos, vamos descobrindo os conflitos que permeiam o dia a dia de uma família de periferia, como tantas outras, e mergulhamos em uma explosão de questionamento, dores e desejos.
Aparecem na história, por exemplo, a instabilidade nos empregos informais, o salário baixo, a dificuldade em pagar as contas, o relacionamento entre duas mulheres, a saída de casa, a luta contra o alcoolismo, o fanatismo, as “pegadinhas” de TV que fazem rir com a dor alheia, o azar, a sorte e a necessidade de anular os próprios sonhos.
Todos esses conflitos são mostrados como situações do dia a dia, triviais. É como se a importância e a gravidade de determinadas ações sejam vistas apenas por nós, telespectadores, distantes, e não por quem vive aquilo.
A rotina da família mineira composta pelo menino Deivinho (Cícero Lucas), o pai Wellington (Carlos Francisco), a mãe Tércia (Rejane Faria) e a irmã Eunice (Camilla Damião) ganha a tela de forma sensível e cativante, deixando claro, apesar de todos os perrengues, os laços de amor que os unem.
Até porque é talvez no momento mais dificultoso da vida deles que a esperança cristalina e o brilho no olho surgem. E é quando eles estão mais fortes do que nunca.