Ver peças de outros países sempre traz novidades interessantes ao público, e quem já pode ser considerado o grande destaque internacional da 5ª edição do Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas é o Teatro Petra, que participou com duas produções marcantes sobre massacre e terrorismo.
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Escolhido para abrir o evento, “Labio de Liebre” (“Lábio de Lebre”) é um espetáculo cheio de camadas que vamos descobrindo aos poucos. Mostra um homem em uma casa isolada e fria que começa a receber visitas inesperadas – e essas pessoas passam a revelar o horror por trás de sua história, falando da necessidade de reconhecimento de pessoas assassinadas e desaparecidas.
A comicidade que permeia a trama abre, então, espaço para um sentimento perturbador. O que vemos em cena é lindo e triste. “Sempre tratamos de temas fortes, muito duros, mas sempre com muito humor negro”, diz o ator Jacques Toukhmanian, que faz parte da companhia há 12 anos.
“Não pretendemos falar ‘isso é uma verdade ou a verdade é essa’. Queremos que as pessoas saiam do teatro fazendo perguntas, questionando coisas, isso nos parece interessante”
Segundo Jacques, “Labio de Liebre”, que estreou em 2015 e já passou por 23 cidades em 12 países, é a primeira montagem que sai um pouco da estética utilizada habitualmente pelo grupo. Aqui, as atuações são realistas, e o cenário reproduz com detalhes o ambiente da casa retratada. “Normalmente não fazemos isso, buscamos algo mais teatral.”
Cenário
Todo mundo sai falando dele. O cenário de “Labio de Liebre” é muito bonito, colorido e lúdico – e foi todo reproduzido aqui mesmo no Brasil. Jacques conta que veio um técnico da Colômbia um mês antes das apresentações (que aconteceram nos dias 5 e 6/9, em Santos) para supervisionar a construção. “Ficou igualzinho o que temos em Bogotá. A gente trouxe apenas o vestuário e pequenas coisas, mas o resto fabricaram aqui.”
Sessões em São Paulo
“Cuando Estallan Las Paredes” (“Quando as Paredes Explodem”) é a outra montagem do Teatro Petra realizada no Mirada e que ganhou duas sessões no Sesc Pompeia, nesta quarta (12) e quinta (13). Também escrita e dirigida pelo talentosíssimo Fabio Rubiano O., a peça fala criativamente sobre ataques: desde um terrorismo escancarado até aqueles realizados em silêncio.
Na trama, uma família riquíssima, exploradora e disfuncional está na mira de um grupo que planeja por vingança sua morte. Qual lado é pior? A história vai e vem algumas vezes e mostra possibilidades para alguns dos pensamentos mórbidos dos personagens. A cena da explosão de uma bomba dentro do carro, com o pai, a mãe e os dois filhos, é uma maravilha.
“A montagem tem uma estrutura completamente desarticulada, fragmentada. Vamos por um caminho e de repente já não, vamos para trás, vamos para outro lado. Isso se parece muito mais ao que fazemos”
Jacques não estará nas apresentações em São Paulo por causa de compromisso na Colômbia e será substituído por Fabio, o diretor. Mas ele conta que a peça também trata de um tema político de seu país, assim como “Labio de Liebre”. “Tema que pode ser universal, porque a luta entre a esquerda e a direita existe em todo lugar.”
No elenco também estão Marcela Valencia, Liliana Escobar, Mario Escobar, Ana María Cuellar, Mónica Giraldo, Mauricio Santos e Santiago Londoño. Após o Brasil, eles retornam para sessões em duas cidades colombianas, e, em janeiro, estão confirmados no Festival Internacional Santiago a Mil, no Chile.
“Cuando Estallan las Paredes”
Onde: Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Pompeia, São Paulo, SP
Quando: quarta (12) e quinta (13), às 21h
Quanto: R$ 12 a R$ 40; à venda pelo site do Sesc