Em uma das cenas mais fortes e impressionantes de “Pi – Panorâmica Insana”, a personagem de Claudia Abreu segura em seus braços uma roupinha que representa seu filho morto, enquanto os outros atores, Leandra Leal, Luiz Henrique Nogueira e Rodrigo Pandolfo, vão colocando sobre ela mais e mais tecidos que retratam cada um deles diversos outros tipos de mortes.
E é nesse contexto que os artistas aproveitaram o atual e conturbado momento político do país para relembrar de forma enfática as centenas de pessoas mortas e torturadas durante a ditadura militar no Brasil. Após cada um dos dados mencionados, aplausos e gritos da plateia.
As duas sessões aconteceram neste sábado (30) e domingo (31) no Teatro Guaíra, durante o Festival de Curitiba, com mais de 2.000 pessoas por dia.
Em outro momento do espetáculo, quando o assunto é discutir a existência ou não de Deus, em uma espécie de conversa com o público, Claudia fugiu um pouco do script e abriu espaço para que as pessoas se manifestassem não só sobre o tema em si, mas também sobre política e democracia.
Houve grito de “Lula Livre”, seguido de poucos aplausos e muitas vaias, e depois o teatro todo começou um coro de “Ei, Bolsonaro, vai tomar no cu”.
Dirigida por Bia Lessa, a montagem é baseada em pessoas reais e dados verídicos. É impactante, irônica, mordaz e cruel. As cenas – teoricamente independentes entre si – retratam o que somos todos nós, os problemas e as discussões da humanidade, o amor e o horror espalhados por todo canto.
Uma nova temporada ainda não está confirmada, mas eles, que não têm patrocínio, buscam levar o espetáculo em breve ao Rio de Janeiro. Tomara que consigam, porque esta é uma peça que precisa muito ser vista.
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