Com direção de Diego Fortes, “Dezembro” discute futura guerra na América Latina

Espetáculo escrito pelo chileno Guillermo Calderón realiza 4 sessões no Museu Oscar Niemeyer, durante o Festival de Curitiba


Tem gente que é favor das guerras e tem gente que acha absurdo ficar matando as pessoas em nome da paz. A peça “Dezembro” coloca essa discussão em um patamar inusitado e metafórico ao apresentar essa oposição de opinião nas figuras de duas irmãs gêmeas.

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Cena de “Dezembro”, no Festival de Curitiba (Lina Sumizono/Divulgação)

A peça, que faz sua estreia nacional no Festival de Curitiba, tem programadas quatro sessões de 4 a 7 de abril no Museu Oscar Niemeyer, na Sala de Exposições 9 (quinta a sábado às 21h e domingo às 19h).

O texto do dramaturgo e roteirista chileno Guillermo Calderón fala de uma guerra que se passa em um futuro próximo (em 2025), quando Chile entra em conflito com Peru e Bolívia após um bombardeio.

Cena de “Dezembro”, no Festival de Curitiba (Lina Sumizono/Divulgação)

Alan Raffo interpreta um soldado que passa a véspera de Natal em casa ao lado das irmãs, vividas por Fernanda Fuchs e Ludmila Nascarella, mas que precisa de apresentar ao exército no dia seguinte para voltar ao campo de batalha. E é aí que surgem discussões relacionadas a xenofobia e solidariedade, a desejos e deveres, a nacionalismo, morte e paz.

Uma das irmãs quer ajudá-lo a fugir e a se livrar da obrigação de servir o país, enquanto a outra exige que o rapaz honre sua pátria e volte ao confronto. E a árvore de Natal de cabeça para baixo que aparece no cenário já dá uma ideia de como a vida deles está, de pernas pro ar. 

Cena de “Dezembro”, no Festival de Curitiba (Lina Sumizono/Divulgação)

O diretor

O ator, dramaturgo e diretor curitibano Diego Fortes conta que já havia visto a montagem original duas vezes, em 2009 em Buenos Aires e em 2010 em Londrina, com direção no próprio Calderón.

“A gente se identificou muito com a linguagem que ele usa, a dramaturgia dele, porque a gente faz uma coisa muito parecida”, diz, referindo-se ao grupo Armadilha, que fundou em 2001. “Ele faz várias cenas cômicas, tem coisas muito engraçadas e muita brincadeira com linguagem.” 

 

O diretor Diego Fortes com o elenco de “Dezembro” (Eika Yabusame/Divulgação)

O espetáculo é estruturado em formato de arena, e isso faz com que o público se sinta mais próximo ainda ao que está sendo encenado ali. “A gente fala tanto absurdo na peça, são tantas coisas polêmicas, que eu achava que, além da coisa do embate, a arena promove uma espécie de assembleia”, explica.

“Eu queria que a plateia se visse, que as pessoas conseguissem ver a reação dos outros. Até porque tem coisas com as quais elas vão concordar e outras com as quais vão discordar. A plateia sempre quer dizer alguma coisa.”

Cena de “Dezembro”, no Festival de Curitiba (Lina Sumizono/Divulgação)

Além da direção, Diego assina a sonoplastia (usa canções da organista norte-americana Shirley Scott) e a tradução. Só alguns trechinhos ficaram no original. “Eu comecei a traduzir alguns xingamentos, mas daí você perde muito. A função da cena [mais para o fim da peça] é que as irmãs se ofendam. O Guillermo usa uma prosa poética de imagens, você acaba entendendo por aproximação, por poesia mesmo. Então eu mantive vários dos xingamentos no original. Quando elas perdem as estribeiras, elas falam em espanhol.”

Cena de “Dezembro”, no Festival de Curitiba (Lina Sumizono/Divulgação)

Diego, vencedor do Prêmio Shell de melhor autor em 2017 por “O Grande Sucesso”, peça que trazia Alexandre Nero no elenco, conta que este é o terceiro texto latino que ele monta em menos de 1 ano.

Além de “Dezembro”, assinou as direções de “Poses para Dormir”, da argentina Lola Arias, também em cartaz neste Festival de Curitiba, e “Molière”, da mexicana Sabina Berman, que esteve em cartaz no Teatro do Sesi, em SP, com nomes como Matheus Nachtergaele, Renato Borghi e Nilton Bicudo.

Sobre “Poses”, já está em andamento uma tentativa de levar o espetáculo ainda este ano à capital paulista, mas outro projeto latino está encaminhado e deve estrear em breve: uma montagem de “Clase”, outra peça de Calderón.

Veja mais fotos de “Dezembro”:

Cena de “Dezembro”, no Festival de Curitiba (Lina Sumizono/Divulgação)

Cena de “Dezembro”, no Festival de Curitiba (Lina Sumizono/Divulgação)

Cena de “Dezembro”, no Festival de Curitiba (Lina Sumizono/Divulgação)

Alan Raffo em cena de “Dezembro”, no Festival de Curitiba (Lina Sumizono/Divulgação)

Ludmila Nascarella em cena de “Dezembro”, no Festival de Curitiba (Lina Sumizono/Divulgação)

Fernanda Fuchs em cena de “Dezembro”, no Festival de Curitiba (Lina Sumizono/Divulgação)