Novo álbum de Adriana Calcanhotto traz panelaço e funk da quarentena: “Senta, senta, senta… e estuda”

Dedicado a Moraes Moreira, "Só" foi todo produzido durante o isolamento social


Adriana Calcanhotto acaba de lançar “Só” (Divulgação)

“O que que faz na quarentena?”, pergunta Adriana Calcanhotto no refrão do funk “Bunda Le Lê”. Pois ela faz muita música. Nove, precisamente. 

Composto e gravado durante o isolamento social, o álbum “Só” chegou às plataformas digitais nesta sexta (29) com 27 minutos de muita coisa boa. O trabalho é dedicado a Moraes Moreira, que morreu no último 13 de abril, e também conta com uma versão em formato de vídeo no YouTube.

As canções falam de saudade, da enxurrada de notícias, de ruas vazias, de amor e da falta da estrada, mas, apesar de inevitavelmente carregar uma certa melancolia, devido ao nosso momento torturantemente pandêmico, o conjunto do disco é feliz e esperançoso. É como se a gente ganhasse um gás e já percebesse o mundo artístico ali, pulsando, por detrás das máscaras.

Tem sambinha, romantismo, funk e muito suingue. A composição citada no título (“Bunda Le Lê”) conta com a participação de Dennis DJ e brinca com o “senta, senta, senta” tradicional dos funks brasileiros. Aqui, no entanto, é “senta a bunda e estuda”, “senta a bunda e lê” e “senta a bunda e vai à luta”. 

Menção política? Serve o panelaço ao final da música “O que Temos”? Então temos. Aí vai um trecho (um dos melhores do disco):

“O que temos são janelas. Em tempos de quarentena, nas sacadas, nos sobrados, nós estamos amontoados e sós. O que temos são panelas”.

“Só” nos lembra que o talento não fica (e não pode ficar) em isolamento, pelo menos não enquanto houver compartilhamento social. 

Produzido de 27 de março a 13 de maio de 2020, o álbum terá toda a renda com direitos autorais revertida para oito instituições: Redes da Maré, Coletivo Papo Reto, A Rocinha Resiste, Amigos Hospital do Fundão, Cesta SomLidária, Ação da Cidadania, Funk Solidário e UBC Compositores.

 

A gravação foi feita com cada integrante da equipe em sua própria casa, “como tem que ser”, diz o texto oficial. A produção musical é de Arthur Nogueira, com Mateus Estrela na coprodução, bateria, sintetizadores, programações e piano elétrico. Leonardo Chaves assina coprodução, contrabaixo elétrico, synthbass, arranjo de cordas e violão.
 
Zé Manoel vai de piano, com Bruno Di Lullo no violão e no sample, Bem Gil no violão, Rafael Rocha na percussão e escaleta e Wallace Carvalho e Allen Alencar nas guitarras. Pretinho da Serrinha toca cavaquinho, Diogo Gomes assume trompete, flugelhorn e trompete com surdina, Thomas Harres vai de bateria acústica e percussão, ao lado do percussionista Bruno Zambelli.
 
A direção de produção e produção executiva é assinada por Andrea Franco, que teve Luciana Flores como assistente. O álbum foi mixado por Rafaela Prestes e masterizado por Takayoshi Manabe.