Peça “Finlândia” mostra olhar aguçado sobre um casal em separação; leia trecho

Paula Cohen e Jiddu Pinheiro acabam de estrear o espetáculo no Teatro Vivo, em São Paulo, sob a direção de Pedro Granato


Jiddu Pinheiro e Paula Cohen encenam “Finlândia” (Crédito: José de Holanda)

“Escrevi ‘Finlândia’ de forma brutal, sem pausa, rapidamente, como se eu quisesse expulsar este texto de mim”, conta o dramaturgo, diretor e coreógrafo francês Pascal Rambert, que já teve suas obras traduzidas para vários idiomas e, hoje em dia, é um dos principais nomes do teatro europeu.

Agora, o público brasileiro tem a oportunidade de ver “Finlândia” no Teatro Vivo, em São Paulo, com interpretação de Jiddu Pinheiro e Paula Cohen, sob a direção de Pedro Granato. O espetáculo estreou em 2022 em Madrid, na Espanha, e já passou por Paris (França), Montevidéu (Uruguai), Cidade do México (México) e Santo Domingo (República Dominicana).

“Finlândia” se passa em um quarto de hotel em Helsinque, onde um casal, em processo de separação, expõe os conflitos de uma relação que se aproxima do fim, enquanto o homem e a mulher discutem sobre a criação e a guarda da filha pequena.

“Finlândia” está em cartaz no Teatro Vivo, em São Paulo (Crédito: José de Holanda)

Nesse duelo de linguagem entre dois mundos aparentemente inconciliáveis, um espelho reflete o momento que vivemos, uma estrutura de padrões opressivos que está por ruir, um mundo em desconstrução que aponta novos caminhos.

O diretor conta que a encenação explora o aspecto claustrofóbico do quarto de hotel em que a história se passa. “Deixamos a encenação diagonal, o que diminui o espaço do quarto e permite essa relação mais cinematográfica como se o espectador visse quase que um plano contraplano”, diz Granato.

“E, assim, rompe-se um pouco com aquela ação mais frontal ou da quarta parede. Temos um caminho de usar elementos de forma mais minimalista para que se sobressaiam os atores e o texto.”

O diretor ainda conta que, para criar essa encenação, buscou diversas inspirações no cinema, como a série “Cenas de um Casamento” (2021, HBO), e o original de Ingmar Bergman; “Closer”, peça adaptada ao cinema de Patrick Marber; e o filme “História de um Casamento” (2019), de Noah Baumbach.

Peça fala sobre um casal em processo de separação (Crédito: José de Holanda)

Leia trecho de “Finlândia:

JIDDU: Qual é o número do quarto da Nina?

PAULA: Para.

JIDDU: Qual é o número do quarto da Nina?

PAULA: Eu não respondo esse tipo de pergunta. Deixa a Nina em paz. Deixa ela dormir. Você não fez 4.000 quilômetros para vir buscar a Nina, se é isso que você tá pensando. Não pira, isso não vai acontecer. A Nina fica aqui comigo. Eu não acho que seja uma ideia incrível acordar Nina às quatro da manhã, mas você sempre gostou de dar esses showzinhos. Tá vendo? Eu acho você um inútil. É foda falar isso, mas acho que você é um fracassado.

Um cara que não chegou a lugar nenhum, e agora você não vai fazer nem eu nem a Nina pagar pelo fracasso da sua vida, tá certo? Entendeu? É sempre assim com caras como você. Começam brilhando, são uns sedutores meia-boca. Funciona por um tempo, depois vocês se acomodam porque, claro, a vida não deu o que vocês esperavam, então vocês começam a rodar e rodar como leões imaturos na jaula do próprio ego ferido, com vontade de mandar tudo à merda; votam nos extremistas que prometem que o país vai voltar a ser o que era, que as mulheres vão voltar a ser o que eram, tudo vai voltar a ser o que nunca foi, só na cabeça doente de fracassados como você.

Estamos rodeadas por caras barrigudos e fracassados. ‘Tão se proliferando por toda parte. Antes a gente não conseguia ver vocês. Vocês se escondiam usando a técnica da “Tartaruga” de combate romano. Conhece? Que eles formam um casco de escudos pela frente, pelos lados, por cima da cabeça e todos avançam assim super escondidos se blindando entre si. Entre homens entre machos. Mas se tem uma época que já passou é essa. A gente já viu vocês. Eu já te vi em todo o teu esplendor masculino, e a tua viagem, tua viagem de cavaleiro andante consertador de problemas, num Volvo família, é a manifestação disso, do teu medo, do teu pânico de perder o controle sobre mim. Tuas garras de águia sobre nós. Teu poder. Por favor, te peço numa boa, sai sem fazer barulho, espera amanhecer, compra uma malha, um casaco, aqui tem uns ótimos, meias quentes e volta para Espanha.

pausa

Por favor.

pausa

Por favor.


“Finlândia”

Onde: Teatro Vivo – Av. Dr. Chucri Zaidan, 2.460, Vila Cordeiro, São Paulo
Quando: 22 de janeiro a 20 de março de 2025; qua. e qui.: 20h
Quanto: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada e preço popular); à venda pelo Sympla
+ infos:
90 minutos; classificação: 16 anos

(Fonte: Pombo Correio Assessoria de Comunicação)