Iraniano ‘O Apartamento’ é thriller envolvente sem tiroteios

No filme, um casal se muda para um novo apartamento —mas a antiga moradora do local guarda segredos


 

“O Apartamento” começa com um prédio desabando: as paredes estão rachando e os vidros das janelas estão trincados.

O casal Emad e Rana precisa se mudar do local às pressas. Com orçamento limitado, eles alugam um apartamento recentemente abandonado pela antiga dona —os objetos pessoais dela, inclusive, continuam por ali. Um dia, quando Emad não está em casa, o apartamento é invadido e Rana é atacada por um homem misterioso. O protagonista, então, lança-se em uma investigação para descobrir a identidade do bandido.

o apartamento 06Os atores Taraneh Alidoosti (à esquerda) e Shahab Hosseini são os protagonistas do drama (Foto: Divulgação)

A sinopse é digna de um thriller norte-americano. “O Apartamento”, porém, segue a linha de filmes anteriores do iraniano Asghar Farhadi, como “À Procura de Elly” (2009): mais do que um thriller, é um drama envolvente, bem desenvolvido, com personagens profundos.

Farhadi, que também assina o roteiro, toca o filme no seu próprio tempo, sem pressa. Emad e Rana são apresentados ao público cuidadosamente: ambos são atores de teatro (estão encenando “A Morte do Caixeiro Viajante”, de Arthur Miller). No Irã, assim como na maioria dos países, a profissão de ator de teatro não é suficiente para pagar as contas. Para complementar a renda, Emad também é professor de adolescentes homens.

Para alugar o novo apartamento, o casal protagonista precisa vender o carro. Eles tentam ignorar a estranheza da ex-moradora: ela parece ter abandonado o local às pressas, deixou várias coisas por lá, e tinha fama de “promíscua” entre os vizinhos.

Uma noite, Rana prepara-se para entrar no banho. Alguém toca a campainha. Assumindo que é Emad, ela logo abre o portão para deixá-lo entrar. Mas o marido ainda estava no supermercado e quem entra na casa é algum conhecido da ex-proprietária. Ele encontra Rana no chuveiro e a ataca. Os vizinhos escutam os gritos e correm para resgatá-la, mas o homem já deixara o local.

Emad defende que a polícia seja avisada. Rana, porém, hesita. E aí entra o papel da mulher (ou a falta dele) na cultura iraniana: ela tem medo de envolver as autoridades, pois será questionada sobre o fato. Por que, afinal, deixou que o invasor entrasse? Como explicar isso e convencer os policiais de que foi um simples engano e não algo de caso pensado? Como convencê-los de que ela é vítima e não culpada?

Sem qualquer ajuda da polícia, Emad decide que ele próprio precisa investigar a antiga moradora do apartamento e descobrir a identidade do invasor.

É inegável que Farhadi, responsável ainda por bons filmes como “A Separação” (2011) e “O Passado” (2013), é um ótimo contador de histórias. Tão bom que “O Apartamento” concorre ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e é forte candidato a uma vaga no Oscar.

Avaliação: Muito bom

 

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