‘Até o Último Homem’ retrata soldado americano que se nega a portar armas

Sob direção de Mel Gibson, Andrew Garfield interpreta soldado pacífico que virou herói americano


 

Desmond Doss (1919-2006) foi um soldado americano pouco convencional. Religioso, ele queria lutar por seu país na Segunda Guerra Mundial – mas, por ser contra a violência, recusou-se a sequer encostar em uma arma. Alistou-se, contra a vontade do Exército, como médico. Essa história virou “Até o Último Homem”, filme dirigido por Mel Gibson, indicado ao Oscar de melhor direção, que estreia nesta quinta (26/1).

Doss (interpretado por Andrew Garfield, indicado ao Oscar de melhor ator), cresceu em uma pequena cidade e foi criado por um pai violento (Hugo Weaving), que perdeu amigos na guerra. Como presenciou agressões constantes, Desmond voltou-se para a religião e manteve uma posição firme contra a violência.

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Andrew Garfield em cena como Desmond Doss em “Até o Último Homem” (Foto: Divulgação)

Quando estoura a Segunda Guerra Mundial, o protagonista decide se alistar no Exército, como bom patriota. Depois de aceito, contudo, ele deixa claro que não encostarpa em nenhuma arma. Magro e vegetariano, ele também recusava-se a treinar aos sábados, porque isso ia contra sua crença adventista.

A partir daí, Desmond obviamente precisa lidar com a rejeição dos seus colegas e de seus superiores, como o sargento Howell (Vince Vaughn) e o capitão Glover (Sam Worthington). Não dá exatamente para culpá-los: eles não querem um soldado que não matará o inimigo para proteger um colega.

Desafiando a todos, Desmond permanece no Exército e consegue cumprir a função de médico no campo de batalha.

Quando o batalhão é chamado para lutar na colina chamada Escarpa Maeda (em inglês, Hacksaw Ridge, o título original do filme), em Okinawa, que estava sob o comando dos japoneses.

A direção de Mel Gibson é, novamente, muito boa —ele faz um bom trabalho como em “Coração Valente” (1995). As cenas de batalha são muito bem feitas, e o filme é comovente e tem um ritmo bom, ora com ação, com drama ou com comédia. Não à toa, o filme recebeu também uma indicação ao Oscar de melhor filme e ao Globo de Ouro de melhor filme dramático.

A falha? Continua sendo a mesma de praticamente toda a produção norte-americana sobre filmes de guerra: carrega exclusivamente a visão dos Estados Unidos e classifica os japoneses como impiedosos e sanguinários. É claro que o filme mostraria o ponto de vista americano (afinal, é feito por eles), mas não há preocupação alguma em mostrar que os japoneses também estão apenas ali defendendo o seu país e que também não gostariam de morrer em batalha.

E é possível fazer isso. “Capitão Phillips” (2013), de Paul Greengrass, por exemplo, é também uma história real e mostra um cargueiro norte-americano sendo sequestrado por piratas somalis. Mas o longa mostra a realidade dos africanos e deixa claro que eles não têm opção se não o roubo de navios. 

É uma preocupação com o outro que, no geral, ainda falta ao cinema dos Estados Unidos.

Avaliação: Bom.

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