Indicado ao Oscar de melhor animação, “Minha Vida de Abobrinha”, que estreia em circuito nacional nesta quinta-feira (16), vai te surpreender (e emocionar).
Criado em stop motion (técnica que usa massinha de modelar para criar personagens e ambientes), o desenho franco-suíço, dirigido por Claude Barras, tem apenas pouco mais de 60 minutos de duração. E não precisa ser mais longo.
Narra a história do garoto Icare, de 9 anos. Solitário e filho de mãe alcoólatra, o menino vive num quartinho escuro no sótão de sua casa –as cores, lá, aparecem apenas nos lápis que ele usa para rabiscar, nas latinhas de cerveja, vazias, que ele pega da mãe para brincar, e numa pipa com o desenho de um pai ausente.
Após a morte de sua mãe, Abobrinha (como prefere ser chamado) é levado por um policial a um orfanato para reconstruir sua vida. Lá, conhece outras crianças que, assim como ele, não têm família.
O que seria (e, de fato é) uma situação extrema e dramática, se torna uma história delicada, contada pelo olhar inocente de crianças que perderam seus vínculos afetivos –e que criam novos laços no abrigo em que vivem.
Após a morte da mãe, Abobrinha vai viver num orfanato com outras crianças sem família (Divulgação)
O garotinho Símon, um dos órfãos da casa, é uma das grandes revelações da história. Com cabelos ruivos, temperamento explosivo e apresentado como um dos “líderes” do grupo, ele bate de frente com Abobrinha logo que o novo morador chega ao orfanato.
Mas, ao decorrer da história, esse temperamento é desconstruído, como se fosse apenas uma máscara que o menino veste para esconder suas frustrações e o sentimento de abandono.
A trilha sonora majoritariamente instrumental, as cores e algumas passagens –como o momento em que Camille, nova moradora, chega à casa– mostram a singeleza da animação. A menina não quer contar o motivo pelo qual foi levada ao abrigo, mas Símon sabe que sua história é dramática. “Dá para ver nos olhos dela”, diz.
Aos poucos, o passado de cada criança é revelado. O conteúdo dramático é balanceado com a percepação de que, ali, todos os órfãos se entendem e, por suas experiências de vida, acabam completando uns aos outros. Os vazios começam a ser preenchidos.
Vale ressaltar que “Minha Vida de Abobrinha” não é uma animação para crianças, ou, pelo menos, para crianças muito pequenas. Mas, mais do que sobre abandono, é um filme sobre o amor. (por Alice Dias)
Avaliação: muito bom.
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