“Três Anúncios para um Crime”, que estreia no dia 15/2, pode deixar o espectador um pouco confuso. É um filme que trata de um tema pesado: uma adolescente foi estuprada e assassinada na cidade de Ebbing, no Missouri (Estados Unidos), e, sete meses depois, o criminoso ainda não foi preso. Mesmo assim, você vai rir.
É que o longa de Martin McDonagh, que assina a direção e o roteiro, tem doses exatas de drama e comédia – e as tiradas cômicas, em sua maioria, flertam com o humor negro. É uma fórmula ousada e arriscada, que deu certo: “Três Anúncios para um Crime” levou quatro Globos de Ouro (incluindo melhor filme dramático e roteiro) e está indicado a sete Oscar – e tem altas chances de levar a estatueta de melhor filme.
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A atriz Frances McDormand (vencedora do Globo de Ouro e indicada ao Oscar pelo papel) entrega uma atuação sólida ao viver a protagonista, Mildred Hayes. Ela decide alugar três outdoors abandonados, em uma estradinha quase deserta, durante um ano. Neles, três frases saltam de um fundo vermelho: “Estuprada enquanto morria”, “E ainda nenhuma prisão?”, “Como pode, chefe Willoughby?”.
Mildred, assim, cobra a resolução do assassinato e estupro de sua filha, que foi sequestrada naquela mesma estrada. A pressão, claro, é direcionada a Willoughby (Woody Harrelson, indicado ao Oscar de ator coadjuvante), chefe da polícia.
Em uma cidade pequena como Ebbing, os outdoors causam comoção. Poucos cidadãos ficam ao lado de Mildred; a maioria apoia Willoughby, que é um bom policial e está com câncer. A protagonista, porém, é categórica ao explicar que a doença nada tem a ver com a resolução do assassinato. “Quis fazer os anúncios agora. Do que adiantaria depois que você estiver morto?”, pergunta a ele.
Mildred é dura na queda, mas precisa aguentar o repúdio da cidade. Um dos maiores vem de Dixon (Sam Rockwell, indicado a ator coadjuvante, em uma atuação matadora), um policial com pouquíssima ética – e responsável por grande parte do humor negro já mencionado.
Ao lado do filho adolescente, Robbie (Lucas Hedges, de “Manchester à Beira-Mar”), a mulher ainda precisa lidar com o ex-marido agressivo, que agora namora uma moça de 19 anos.
O roteiro de McDonagh é muito inteligente, do tipo raro de se encontrar por aí. Ele apresenta personagens interessantíssimos, complexos e, muitas vezes, marginalizados (Peter Dinklage, de “Game of Thrones”, vive James, um homem bom, mas que é primeiro julgado por ser anão). A própria Mildred mostra muitas nuances: ela tem raiva da justiça lenta e cobra o chefe de polícia, mas isso não significa que ela ache que Willoughby é uma má pessoa. Dixon, por sua vez, é explosivo e flerta com a corrupção, mas também pode fazer o que é certo.
De forma eficiente, “Três Anúncios para um Crime” fala sobre morte, luto e violência, mas também sobre amor, perdão e redenção. O longa deixa o espectador tão vidrado na tela que é só depois que sobem os créditos que sua mensagem vem à tona: a justiça é lenta, sim, mas cabe a nós buscar justiça com as próprias mãos (e pagar o preço que vem com ela)?
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