A atriz Maria Manoella e o músico e ator André Abujamra são os convidados do projeto 5 por 5, realizado pelo Culturice. Eles toparam se entrevistar e trocar perguntas sobre quaisquer assuntos, e o que surgiram foram diálogos sobre pandemia, arte e talentos, dentre outros assuntos.
O projeto 5 por 5 tem como objetivo estabelecer diálogos ricos e interessantes a partir da conexão entre diferentes áreas, gêneros, experiências e pensamentos. Sempre teremos a participação de duas personalidades, e cada uma fará 5 perguntas para a outra, sobre qualquer assunto – dá para falar sobre arte, política, filosofia, família, sentimentos, sociedade, o que for. Por isso, a curiosidade não fica apenas em relação às respostas, mas também em saber quais serão os questionamentos elaborados pelos participantes.
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Maria Manoella já participou de dezenas de peças de teatro, filmes, séries e novelas. Nos palcos, participou de produções como “Cruel” (2011), onde atuou ao lado de Erik Marmo e Reynaldo Gianecchini, e “O Rio” (2018), com direção de Nelson Baskerville. Já no cinema, estrelou ao lado de Martha Nowill o filme “Vermelho Russo”, vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival do Rio 2016, e integrou o elenco de “A Vida Invisível”, premiado na mostra Um Certo Olhar, no Festival de Cannes 2019.
André Abujamra é um multiartista: compositor, ator, cantor, produtor e premiado autor de trilhas sonoras para filmes e peças de teatro. Fundador de bandas como Karnak e Os Mulheres Negras, ele agora também está se dedicando ao universo da arte digital, produzindo obras que podem ser vendidas como NFTs, espécie de registro de um ativo em formato digital.
Maria Manoella entrevista André Abujamra
Maria – Solidão absoluta ou convivência exacerbada? Qual a sua condição pandêmica e como ela influencia no seu dia a dia?
André – Ando bem angustiado com a situação pandêmica. Já trabalhava bem em casa desde 2005, então continuar trabalhando na quarentena não tem sido difícil. O complicado é deixar de ter contatos com filhos, família, amigos. Essa falta de calor humano e excesso de telas tem me deixado cabisbaixo.
Maria – Você desenvolveu ou aprimorou algum talento extra na sua pandemia ?
André – Eu sempre me meti a besta fazendo muitas coisas na vida e ultimamente devido ao meu envolvimento com o mundo das NFTs comecei a desenhar e transformar minhas ideias estéticas em arte visual. Então consigo juntar minha música com as ideias que vêm na minha cabeça.
Maria – Quando acabar tudo isso, qual o lugar que você tem mais vontade de ir e com quem?
André – Sou de sangue árabe, né? Vou querer muito juntar meus filhos, família, amigos numa mesona grande regada a vinho e boa comida. Depois escapar para um refúgio na praia ou no meio do mato pra respirar um pouco de natureza. Tá fazendo muita falta.
Maria – Quem faria a trilha sonora do filme da sua vida?
André – Os meus filhos, José e Pedro. Seria uma honra… já pensou?
Maria – Qual o remédio e o cardápio da sua quarentena?
André – O remédio? Às vezes alguma homeopatia pra ajudar o sono. Ando fazendo jejum intermitente com supervisão de um médico. Tem me ajudado muito a manter a saúde em dia.
André Abujamra entrevista Maria Manoella
André – Maria, imagina você no espaço sideral. Você lá, uma alma, escolhendo um lugar para nascer hoje na terra. Você escolheria o Brasil pra nascer?
Maria – Qualquer lugar menos o Brasil. Hoje sinto com muita tristeza que o Brasil é o pior lugar pra se estar no momento. Acho que gostaria de nascer na Nova Zelândia, Austrália, lugares que respeitaram a quarentena e levaram a sério a pandemia. Seria um bom recomeço.
André – Que filme, que canção ou peça que você viu/ouviu que fez você dar aquele cavalo de pau na vida?
Maria – Nunca vou me esquecer da primeira vez que pisei no Teatro Oficina. Assisti “Bacantes” e saí de lá flutuando e querendo engolir o mundo. Certamente o primeiro imenso impacto que sofri no teatro foi com eles.
André – Como músico e compositor eu adoro os maestros russos, especialmente Stravinsky. Você tem algum mestre que te guia no teatro?
Maria – Tenho mil mestres, lista infindável e a sorte de ser parceira de vários. Stanislavsky, Tchekhov, Shakespeare, Strindberg, Renato Borghi, Elias Andreato, Francisco Carlos, Mario Bortolotto, Emilio de Biasi, Cleyde Iaconis, Selma Egrei, pra citar alguns.
André – Eu atuei em alguns filmes recentemente onde fiz papéis bem pesados, de gente ruim mesmo. Eu saía do set arrasado. Foi difícil encarnar o personagem e depois levar uma vida normal e ir tomar um café tranquilo. Pensando nisso, qual filme foi o maior desafio pra você fazer? Aquele papel que mais te desafiou, mais exigiu de você?
Maria – Foi em “Vermelho Russo”, onde eu me interpreto rs. Muita entrega, muita investigação e um encontro profundo comigo mesma. Também saía arrasada, confusa e desesperada por um shot de vodka pra aliviar a metafísica, e o pior: nunca me livrei da personagem.
André – Pra terminar, uma pergunta abujamrística: O que é a Vida?
Maria – A vida é a caminhada e os seus percalços. O importante não é chegar, é o atravessamento dela. É isso que te constitui. Beijo, Abu!