Quanto vale um bebê? E qual o limite para o amor de uma mãe – tanto biológica quanto adotiva? É esse o mote de “Uma Espécie de Família”, do argentino Diego Lerman, que foi exibido da 41ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e estreia em circuito nesta quinta (8/3).
Na trama, Malena (Bárbara Lennie) vai até a pequena cidade rural de Misiones, na fronteira da Argentina e do Brasil, para acompanhar o parto do seu filho. Quem vai dar à luz é Marcela (Yanina Ávila) e já estava tudo combinado: como a moça não tinha condições de criar outro filho, entregaria o bebê para que Malena o adotasse.
O menino nasce saudável, e Malena precisa esperar um pouco, até que o hospital dê alta, para levá-lo para casa. Só que, nesse meio tempo, a família de Marcela lhe diz que o marido da moça sofreu um acidente e está internado em um hospital no Brasil. Eles precisam de US$ 10 mil para ajudá-lo.
A protagonista logo encara o pedido como extorsão: colocaram um preço no bebê. Ela se nega a pagar. A família engrossa e diz que só negociará com o marido de Malena – aparentemente, a posição da mulher não vale muita coisa.
Desesperada, Malena pede ao marido, que estava viajando a trabalho, que vá até lá – e se desespera mais ainda quando ele fala que isso não é certo, que ela deveria deixar o bebê lá. Mas a moça já tinha segurado a criança nos braços: foi o suficiente para não querer mais soltá-la. Malena tenta até vender o carro para pagar a taxa imposta.
Tudo fica pior porque os médicos e os advogados envolvidos na adoção (entre eles, a doutora Pernía, interpretada pela brasileira Paula Cohen) acham que ela deve, sim, pagar o valor. Afinal, segundo eles, o que custa ajudar uma família pobre?
Além da bela fotografia, “Uma Espécie de Família” tem roteiro eficiente, escrito pelo próprio Diego Lerman e por María Meira, ao abordar diversas questões: a enorme burocracia para se adotar uma criança, que faz aspirantes a pais recorrerem à ilegalidade; o amor corajoso de uma mãe biológica, que decide que o melhor para o filho é ficar longe dela; e a determinação ilimitada de uma mãe adotiva que quer ficar com seu bebê a qualquer custo.
Aflitivo, “Uma Espécie de Família” faz o espectador ficar vidrado na tela. E – o mais importante – não retrata a mãe adotiva como heroína e a biológica como vilã: o filme deixa claro que as duas têm um amor igualmente válido e verdadeiro.
Não à toa, o longa, que tem coprodução da brasileira Bossa Nova Films, foi premiado no Festival Internacional de Chicago (melhor filme) e no Festival de San Sebástian (melhor roteiro).
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