Teatro Colón possui setor que separa homens de mulheres e proíbe quem paga menos de entrar pela porta principal

No famoso teatro argentino, quem fica nos locais mais em conta entra por porta lateral, é destratado pelos funcionários e muitas vezes tem visão nula do palco


O famoso Teatro Colón, que fica na cidade de Buenos Aires, na Argentina, perto do Obelisco, abriu suas portas em 1908 e foi reinaugurado em 2010 após reformas, mas sua administração parece ter parado no tempo.

A não ser que você desembolse os valores mais caros para ficar no térreo, pagando mais de R$ 500 em alguns casos, vai ter que se contentar em entrar por uma porta na lateral do edifício e que dá acesso apenas às escadas para os andares superiores. Dar uma olhada no grandioso hall de entrada? Nem pensar, só pode pisar lá quem pagou mais. Separação de classes.

Fachada lateral do Teatro Colón (Fabiana Seragusa/Culturice)

No dia da visita, a reportagem, que comprou ingresso para um dos setores mais baratos, o “só para mulheres”, para ver exatamente como era essa separação de gêneros, perguntou a um dos funcionários se era possível ir até o hall principal rapidinho para ver como era. O homem, já de idade avançada, gritou um “não” de forma grosseira, virou as costas e saiu andando, sem nem responder o “por quê?” que veio depois. Tratamento diferenciado.

LUGARES EM PÉ / SEPARAÇÃO POR GÊNERO

Chama a atenção quando você entra no site de compra de ingressos e vê em destaque dois locais: “Cazuela de pie” (só para mulheres) e “Tertulia de pie” (só para homens). Em 2018, um espaço cultural que separa homens e mulheres? Sim. São uns dos setores mais baratos do teatro, só perde para o “Paraiso de pie”, lá no último andar, onde pessoas de ambos os sexos podem ficar no mesmo ambiente.

teatrocolon2

Picture 1 of 2

Corredor estreito chamado "cazuela de pie", setor onde só podem ficar mulheres (Fabiana Seragusa/Culturice)

O local é horrível. Eles avisam que fica em pé? Avisam, mas não dizem que você fica em um corredor super estreito e desconfortável, com teto baixíssimo e que não dá nem para se mexer. É uma fileira de pessoas. Se alguém do meio precisar sair, todos os outros precisarão sair, não há espaço para passar. Lembrando que muitas das óperas da programação duram mais de 3 horas.

A funcionária do andar também demonstrou desdém com o público, proibindo que alguém do ingresso “em pé”, ou seja, mais barato, ficasse nas áreas comuns que também davam acesso às fileiras da frente, destinadas àqueles que pagaram um pouco a mais e tinham direito a uma poltrona. Isso tudo mesmo antes de o espetáculo começar, o que é um completo absurdo.

Além disso, vale destacar que a visão do palco, como em quase todo o Colón, é muito limitada, e no dia da visita estava muito calor no teatro – se na rua os termômetros marcavam 27ºC na hora do espetáculo, certamente o público foi obrigado a amargar mais de 30ºC lá dentro. 

VISÃO DO PALCO

Novamente, o público parece ter pouca importância por lá: centenas de lugares possuem “visão nula” do palco. Sim, nula. Está no site escrito, é só entrar lá. Mas a intenção principal de quem vai ao teatro não é ver exatamente o palco? Claro que sim, mas talvez para eles isso não seja importante – assim como o respeito e otras cositas más.

Nem a equipe nem a assessoria de imprensa responderam as mensagens ou os e-mails enviados pelo Culturice para saber o posicionamento do teatro em relação aos pontos levantados. 

teatrocolon3

Picture 1 of 2

Parte da plateia do Teatro Colón, em Buenos Aires (Fabiana Seragusa/Culturice)

  • Isabel Oliveira

    Essa é a primeira vez que vejo alguém reclamar do Colon….considerando que no TripAdvisor e Google ele tem avaliação próxima a 5 estrelas, por que ninguém dá essas dicas?