Criada durante a quarentena, peça “Onde Estão as Mãos, Esta Noite” amplifica a apatia e a loucura do isolamento

Karen Coelho interpreta uma mulher que tenta entender suas emoções e as mudanças no mundo


Por mais que você fique nas primeiras fileiras, dificilmente conseguirá enxergar todas as sutis expressões faciais dos atores no teatro tradicional, mas na peça online “Onde Estão as Mãos, Esta Noite” você tem a chance de observar cada detalhe da interpretação de Karen Coelho.

Ela se coloca bem à frente dos espectadores e faz com que eles próprios se vejam ali, por meio de gestos repetitivos, aflitivos, involuntários e delicados. Dá para perceber sua respiração, o franzir de testa, o movimento dos olhos.

Karen Coelho em “Onde Estão as Mãos, Esta Noite” (Fabiana Seragusa/Culturice)

A performance se passa na sala da atriz, que dá vida a uma mulher em meio à quarentena. De forma apática, quase robótica, ela fala sobre seus afazeres diários enquanto divaga sobre o futuro. O borbulhar de pensamentos, os relatos e as dúvidas estão por toda a parte e refletem sobre o mundo atual.

A peça “Onde Estão as Mãos, Esta Noite” foi criada e produzida durante o isolamento social, sem qualquer contato físico entre a equipe, que se reunia apenas de forma virtual. A dramaturgia de Juliana Leite ganhou direção de Moacir Chaves e direção de arte assinada por Luiz Wachelke.

“Foram dois meses de ensaios diários, muito parecido com a rotina do teatro tradicional”, conta Karen, durante bate-papo após uma das apresentações. Ela diz que essa experiência nova “foi um trabalho de autoconhecimento muito profundo”, já que os gestos e os movimentos ficam amplificados durante as transmissões. “E exige muita concentração, porque eu atuo olhando para um pontinho. É um exercício de foco muito grande.”

Karen Coelho em “Onde Estão as Mãos, Esta Noite” (Fabiana Seragusa/Culturice)

O enquadramento parcial da câmera em certos momentos é outra coisa que chama a atenção na montagem, já que às vezes conseguimos ver apenas parte da personagem. É como uma metáfora da nossa limitação de compreender o todo, de ver além, de juntar fragmentos.

O texto também fala de loucura, de saudade e da falta de abraço, ao mesmo tempo que explora a obsessão com a limpeza das mãos e dos objetos, o desespero, o medo e a esperança. A sensação é de que todas as emoções do mundo estão ali naquela mulher, e, por haver tanto sentimento condensado, a reação acaba sendo de paralisia. 

A arte de Karen, que brilha nos palcos e já participou de grandes peças como “A Profissão da Senhora Warren” e “O Camareiro”, agora chega ao público de uma outra forma, mas de maneira igualmente potente e talentosa.

A estreia da peça foi em 28/5, e a temporada, gratuita, segue com sessões de quinta a domingo, às 20h, com matinê aos sábados, às 15h. Os interessados devem mandar e-mail para maosaoteatro@gmail.com indicando qual dia preferem – e a partir disso recebem orientações para acessar a sala online.

“Onde Estão as Mãos, Esta Noite”

Onde: aplicativo Zoom
Quando: quinta a domingo, às 20h (aos sábados, também tem matinê às 15h)
Quanto: grátis (reserva pelo e-mail maosaoteatro@gmail.com)
+ infos: 35 minutos; após as sessões, há bate-papo com a equipe

Karen Coelho em “Onde Estão as Mãos, Esta Noite” (Divulgação)